NARMER, O FARAÓ FUNDADOR DO KEMET
Predominantemente desértica, a região onde se encontrava no Kemet (Egito Antigo) tinha pouca vegetação, que se concentrava principalmente às margens do rio Nilo. Esse fato levou os kemetyu a abandonarem seus comportamentos nômades e se assentarem em territórios próximos ao rio, chamados de “nomos”. Esses grupos passaram a se unir no decorrer do período chamado de Pré-dinástico, fosse de maneira pacífica ou por meio de conflitos. Esse processo se deu até que se formassem dois principais reinos: o “Alto Egito”, a região do vale do rio Nilo; e o “Baixo Egito”, a região do delta do rio Nilo. Essa configuração se manteve até aproximadamente 3100 a.C., quando o Kemet foi então unificado, provavelmente pelo faraó Narmer, rei do “Alto Egito”. A unificação do Kemet que ocasionou a fundação da primeira dinastia é um fato do qual muitos têm conhecimento. Entretanto, saber quem foi realmente seu principal responsável é um problema bastante recorrente até mesmo para os estudiosos do Kemet na atualidade. As hipóteses mais comuns são de que o faraó unificador possa ter sido Narmer, Menés ou Aha, todos nomes de governantes encontrados em diversas fontes.
A comunidade de “egiptólogos” considera
atualmente que o mais provável é que o unificador seja Narmer, pois, a Paleta
de Narmer, a principal fonte que se tem daquele período, nos dá essa pista. A
Paleta de Narmer vem sendo interpretada de diversas formas pelos egiptólogos
desde que foi encontrada, no final do século XIX. Esses pesquisadores tentam
resolver numerosas e diferentes questões, desde as origens políticas do Estado
Kemet à natureza da arte e escrita kemetyu. Descoberta em 1898 em
Hieracômpolis, a antiga cidade de Nekhen, a Paleta que possui formato de escudo
e foi feita em pedra escura e esverdeada, com 63 cm de altura e decoração em
relevo esculpido em ambas as faces, geralmente é datada como sendo do início do
período dinástico arcaico (c. 2920-2770 a.C). O conteúdo complexo que a
decoração da Paleta traz, suas imagens e inscrições, incorporam uma série de
aspectos altamente característicos da arte faraônica. A representação das
pessoas e animais como uma combinação de elementos frontais e laterais e o uso
do tamanho como meio de indicar o nível de importância de cada indivíduo,
estabelece a iconografia como demonstração de poder. Na parte frontal da Paleta
de Narmer há uma representação de leões de pescoço comprido entrelaçados sendo
domados por dois homens. Esses animais “domados” podem representar
especificamente a unificação das duas metades do país, que é um tema
recorrentemente presente na arte e textos kemetyu ao longo do período
faraônico. O círculo formado pelos pescoços entrelaçados desses animais cria
engenhosamente uma depressão no centro da Paleta, onde os pigmentos para a
pintura dos olhos poderiam ser triturados (o propósito original desses tipos de
paleta), entretanto, não há claros indícios se esse artefato cerimonial era
realmente utilizado para essa função. Objetos rituais como a Paleta de Narmer,
muito provavelmente, transcendiam seu suposto uso, pois assumiam, por exemplo,
o papel de oferendas, dedicadas ao templo de Hieracômpolis. Ao analisar o
conteúdo dessa face da Paleta, vemos o faraó participando de uma procissão com
outras seis pessoas, incluindo duas figuras que têm metade do seu tamanho.
Estes dois homens, evidentemente representam funcionários de alto escalão. O
rei e seus servos estão revisando os corpos decapitados de seus inimigos,
presumivelmente derrotados em batalha. No registro superior na frente da
Paleta, acima dos animais entrelaçados, há a figura do faraó Narmer entre duas
cabeças de vaca, que representam a deusa Bat. Narmer é mostrado com a chamada
Coroa Vermelha, que representa seu domínio sobre o reino do Baixo Egito.
Enquanto que na outra face da Paleta, vemos em destaque a figura do faraó
utilizando a coroa do reino do “Alto Egito”. Nesse sentido, percebemos a grande
importância desta Paleta para compreendermos melhor a figura de Narmer e a
união entre o “Alto Egito” e o “Baixo Egito” como um único reino, sob o poder
deste rei. Além do que vemos nas imagens da Paleta de Narmer, outro indício que
complementa a teoria de que o rei foi o unificador do Egito é a interpretação
de seu nome. O arqueólogo Flinders Petrie (1853-1942) foi um dos primeiros a
afirmar que Narmer e Menés seriam uma única pessoa, o primeiro faraó da
primeira Dinastia e que os dois nomes designavam um só homem: Narmer era seu
nome, representado foneticamente pelos hieróglifos do peixe-gato (nr) e do
cinzel (mr), uma interpretação do nome do deus Hórus; e Menés era um título
honorífico ou algo semelhante, que significaria “aquele que perdura”. A Paleta
de Narmer está exposta atualmente no Museu Nacional Egípcio do Cairo.
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